Wednesday, September 08, 2004

a casa estava cheia de mulheres presas
em seus cordões umbilicais...
suas vozes repercutiam no cosmos espacial da casa,
casa com vozes de mulheres,
mulheres libertas em seus cordões umbilicais.

mulheres nuas pela casa,
dentro de água como raias,
mulheres nuas pelos espelhos,
no reflexo da luminosidade.

e depois havia os pratos que se apinhavam sujos,
e as carcaças com manteiga que se comiam pela boca dos olhos,
e uma melancolia soberba que ocupava o pensamento das mulheres.

depois de foma compassada havia o sangue crescendo,
sangue dentro das mulheres,
sangue podre escorrendo pelas vaginas voadoras das mulheres,
sangue mágico, sangue lunar.

e pela boca das mulheres saíam borborletas com asas perfuradas,
borboletas sacramentais e viscerais,
borboletas nocturnas borboletas oníricas.
borboletas em canto.

e pelo canto e pela morte as mulheres rejuveneciam na sua concha maternal,
concha hermeticamente encerrada pelo espaço das mulheres.
conchas marsupiais onde as mulheres pelo sangue da mãe
crescem pela mãe adentro.
mãe rejuvenecida pela juventude carnal das mulheres,
mãe mumificada pelo ácido salivar das filhas,

as filhas encerradas na área continental do ventre da mãe,
e a mãe condenada a húmus da terra das filhas.

a casa era uma casa magnífica...casa total,
casa cheia de mulheres sereias,
casa ilumidada pela centelha uterina das mulheres.

casa casa, casa pela casa,
mulher porto, mulher casa.

1 comment:

Maria João Matos said...

recorda o dia da Mulher e o que aconteceu.. metaforicamente as sereias dão-lhe a beleza e melhor visibilidade sobre o acontecimento de corpo preso e solto enquanto agua como o seu espaço, embora eu n tenha conhecimento do significado ou mensagem directa que queres dar mas foi o que me veio logo à consciencia... Gostei muito! Bjinhus * * * * )O( * * * *