Tuesday, August 31, 2004

no alto da casa vive o segredo.
segredo em metamorfose pelo tempo,
metamorfose esquecida no corpo transfigurado.
num instante cresce-se e deixa-se de chorar,
morre a criança de dentro da boca quando nos gritam do cimo da voz:
- levanta-te Já és homem -.

depois arrefecem todos as partes do corpo,
e aquecem todas as partes soltas do corpo.
morre-se um pouco no gesto cíclico
da masturbação.
depois fica o desgaste,
o cansaço,
a doença que se agarra ao corpo,
a sensação de vómito proíbido.

no alto da casa vive um ser de muitas pernas e braços,
ser multifacetado de muitas formas,
ser com encéfalo de homem,
homem com muitas pernas e braços,
homem com muitos medos,
homem morto pela criança assassina,
criança desventrada e amarrada ao alto da casa.

no alto da casa vive o sangue.
sangue derramado pelas gengivas violadas,
sangue menstruação em roupa clara.
sangue secreto e amordaçado
sangue real...sangue coalhado pelo calor da boca.

no alto da casa vive uma mão de ferro,
mão escondida no sorriso da criança,
criança escondida pela sombra da voraz mão.
mão de ferro de muitas verdades,
verdade sorriso,
verdade dor,
verdade escondida na mentira filial.

no alto da casa vive o baixo da casa:
casa reflexo, casa espelho...casa casa.


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