Tuesday, August 31, 2004

os cactos cresciam lentamente aos olhos dos anos,
eram verdes com muitos espinhos nas pontas e em redor.
de quando em quando nasciam flores de cor pastel,
flores inodoras de pétalas furibundas que nasciam na agonia do espinho,
na vicissitude dos tempos.

eu devorava os cactos com a minha melancolia ao som dos faunos
e dos cavalos vermelhos com crinas de palha,
ao ritmo constante do galope,
enebriado pelo sono da criança de lábios cozidos com linhas de cristal.

às vezes o vómito do sono era quente,
tornando o trespassar da epiderme uma sobremesa doce e calma,
pois calmos são os dias em que a criança parte alada no rapto dos cavalos com crina de palha.
outras o ruminar da memória fazia ferver o sangue
ao ponto de cozer a carne do corpo
corroendo os ossos fracos ao estado de erosão delicada,
e os olhos derreterem como cera num pus azul claro.

os cactos viviam assim para lá da vida,
cerrando em si os segredos do trotar da alma
da criança de lábios cozidos.



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