Friday, August 25, 2006

amparo as minhas costas junto ao teu corpo.
deixo-me estar muito quieto:
sinto-me resguardado no teu braço ao de leve.

vejo-te pelo sentir das costas,
pela brisa que emanas...
imagino-te aí sem te querer ver em mim,
em mim enquanto ser que respira,
enquanto ser que em golfadas aspira as palavras, a poesia e o canto.

as minhas costas são montanhas e
as minhas costelas arco-íris de terra vestido.
sinto um sonho, um arrepio, uma faca que trespassa o próprio sonho.
faca que pelo tempo cresce e se impõe:
sua lâmina entra como o mel pela boca,
e perfura como a palavra pela língua.

deixo estar as costas junto ao braço que me acolhe,
que me toma e me lança no vórtice da saudade.
encolho-me perante a queda, alongo-me sobre o voo.

caio por fim sobre o beijo do teu braço,
braço na plenitude do desejo, do terror, da articulação do toque.
deixo-me viver sobre e por baixo da morte,
por dentro do beijo e por fora do braço.
deixo-me ser
pelo sonho das costas resguardadas no teu braço ao de leve.

1 comment:

Anonymous said...

"E eu com cara de quem não se lembra/De já ter descido à mina/Eu a olhar em volta sem ver nada/Como caçador esperto numa terra de escombros/Esperava-te esperava-te/
Eu que com os olhos já podia ter feito um tapete de esperas/Como ainda não tinha começado/Experimentaria ao largo das salinas a paz ignorada das metamorfoses."Cesariny, Pena Capital