Tuesday, August 29, 2006

Uma mulher que anda de mãos no silêncio das coisas,
corre em passos muito estreitos pela melancolia.
o seu movimento é de uma beleza extraordinária,
como se toda a beleza dos olhos tingisse o ar por onde penetra.
suas mãos desviam as cortinas de névoa como cordas de cítara,
e todo o seu canto é um mistério.

una mulher que anda com sua cabeça muito alta,
com o seu sexo orvalhado e descoberto da inocência,
com sua boca falante e arquejante.
sua língua é imensa pela palavra,
pela palavra desconhecida e secreta.

existe em cada mulher uma palavra, um verbo.
palavra inovadora da acção descoberta,
palavra selvática na mente e pela língua.
palavra giratória de sentido.

uma mulher que anda com mil cascatas de miosótis,
sua pele azul pelo pólen das lágrimas,
pele em céu transformada.
mulher no céu e na terra, no ar e no fogo, na água e na alma.

existe uma mulher em cada cena particular do mundo,
com seus grandes lábios silenciosos,
com seus instintos diligentes.
queimando os corpos dos bacantes perdidos na água,
seu fogo é frio pela espinha e quente pela pele.
existe um fogo que fala em segredo:
inaudível é sua voz lunar.

Uma mulher que anda de mãos no silêncio das coisas,
tomando o mundo pelo ventre,
despejando-o e libertando-o pelo tempo incógnito e sagaz.

1 comment:

. said...

Grandes poemas, amigo Carlos!