Friday, August 25, 2006

começas um mundo com um ramo de borboletas,
sentes-te novo, vitorioso e sedento.
segues no comboio,
lá fora gente que passa, que vem e que passa. e que fica.
tu imóvel herói sais na última porta à esquerda.
respiras o ar da cidade e intoxicas-te de contentamento:
nos lábios um sorriso rasgado por um serrote.

caminhas sem vacilar,
desces e desces,
vais entrando à medida que desces.
vais entrando e transformando-te.
assim se acolhe quem entra, pensas tu.

os ventos são habitados,
as ruas desertas.
os passos, os teus, vacilam um pouco,
a respiração torna-se inusitada,
na boca um sabor a ocre e a peste.
Pensas: hoje serei uma flor amarela,
um grito, uma alucinação, uma pintura.

vais crescendo no teu corpo de flor.
tuas pétalas são rios de seiva,
suaves na sua grandeza de cetim.
olhas com teus caules suculentos
a extensão da terra.
continuas a descer na tua transformação.
Sou agora um homem,
dizes com a vaidade toda da boca.
na tua testa uma pétala amarela morre!

1 comment:

. said...

Este tambor de aço é realmente muito bom. Poemas com muita qualidade.


Abril de 2008